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24/04/2014

Universidade americana e Fiocruz firmam parceria para pesquisas em leishmaniose

Maíra Menezes


Considerada um problema crescente de saúde pública, a leishmaniose visceral é o foco de projetos de pesquisa científica entre a Universidade do Texas Medical Branch (UTMB) e o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Em parceria com os laboratórios de Pesquisa em Leishmaniose e de Doenças Parasitárias, uma das iniciativas deve testar no Brasil, ainda este ano, um novo método molecular desenvolvido nos Estados Unidos para diagnóstico da infecção em cães. Já o projeto realizado em parceria com o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas tem o objetivo de encontrar moléculas que sirvam para avaliar a progressão da forma humana desta complexa doença, que envolve também cães e insetos no ciclo de transmissão do parasito.

Pesquisadores da UTMB visitam o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas (Foto: Gutemberg Bito)

 

Novo método de diagnóstico

Durante a sessão extraordinária do Centro de Estudos do IOC, o professor da UTMB Bruno Travi apresentou um novo método para diagnóstico de leishmaniose, conhecido como RPA-LF. Segundo ele, o exame, baseado na técnica Recombinase Polymerase Amplification, é muito sensível, sendo capaz de identificar a infecção em amostras de sangue contendo apenas dois parasitos. A técnica, que dispensa o uso de equipamentos como estufa e máquina de PCR, poderia ser utilizada para a realização do diagnóstico em unidades básicas de saúde, próximas aos locais onde ocorrem casos da doença.

Para testar o novo método em campo, um projeto de pesquisa foi submetido aos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês) por Travi e pelos pesquisadores do IOC Renato Porrozzi de Almeida, chefe do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose, e Reginaldo Brazil, do Laboratório de Doenças Parasitárias. De acordo com Porrozzi, além de avaliar a metodologia, a pesquisa no Brasil buscará respostas para uma pergunta importante sobre o ciclo da leishmaniose: em que momento os cães passam a transmitir a doença? “Os testes sorológicos não têm boa sensibilidade para detectar a infecção em sua fase inicial, quando os animais ainda não apresentam sintomas. Com o diagnóstico precoce, o projeto se propõe a avaliar quanto tempo leva para o animal se tornar infeccioso para o inseto transmissor e para o desenvolvimento de sintomas”, explica o pesquisador.

Para Brazil, a melhoria do diagnóstico em cães pode ajudar a reduzir a propagação da leishmaniose, mas é preciso avançar também em outras medidas. Segundo ele, a eutanásia ainda é recomendada quando cães são diagnosticados com a infecção. Porém, há uma pressão crescente para que alternativas sejam encontradas. “O problema é que os animais não são curados com medicamentos, e os parasitos se tornam resistentes. Já as vacinas caninas não têm eficácia total comprovada. Isso é um problema sério”, diz o pesquisador.

Busca por vacinas e marcadores de gravidade

O diretor do Centro de Doenças Tropicais da UTMB, Peter Melby, acredita que, juntamente com novos tratamentos orais, o desenvolvimento de imunizantes contra a leishmaniose é uma prioridade atual nos estudos sobre o agravo. Na mesma sessão do Centro de Estudos, Melby mostrou que a desnutrição altera a forma como o sistema imunológico reage à infecção por leishmania, tornando mais fácil a chegada do parasito a órgãos como fígado e baço, favorecendo o desenvolvimento da leishmaniose visceral. “É muito importante compreender o mecanismo imunológico de proteção contra a doença ou não teremos sucesso na produção de vacinas efetivas. Tenho esperança de que em dez anos tenhamos um imunizante no mercado”, afirma Melby, que trabalha em parceria com o Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas, coordenado pela pesquisadora Alda Maria da Cruz.

De acordo com Alda, a parceria com a UTMB também é importante devido à experiência do grupo com o uso de hamsters em pesquisas. Estes animais são um excelente modelo de estudo da infecção por Leishmania braziliensis e são importantes para avaliar possíveis imunizantes, conforme demonstrado na tese de doutorado defendida por Raquel Peralva-Romão pelo Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Medicina Tropical. O modelo é utilizado, por exemplo, em um estudo conduzido pelo pesquisador Eduardo Pinto Fonseca, do mesmo laboratório, que conseguiu demonstrar proteção contra a L. brazilisensis utilizando um antígeno específico. “O maior desafio na busca por uma vacina, hoje, é encontrar uma molécula capaz de gerar uma resposta protetora do organismo que funcione para os diferentes tipos de parasitos”, explica Fonseca.

Ao mesmo tempo em que buscam identificar possíveis vacinas, os pesquisadores também estudam sinais que permitam antecipar o agravamento da doença. Este é o foco do projeto de doutorado da estudante do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária do IOC, Yaneth Osório, orientada por Alda e Melby, diretor do Centro de Doenças Tropicais da UTMB. Nos EUA, Yaneth identificou substâncias que são produzidas em alta quantidade em hamsters doentes. No Brasil ela vai estudar se essas mesmas moléculas podem ser utilizadas para acompanhar a progressão da leishmaniose visceral em pacientes.

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