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05/11/2010

Telessaúde: um novo campo em desenvolvimento na Fiocruz

Informe Ensp


A Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) está dando início ao desenvolvimento do seu Programa de Telessaúde, coordenado pela pesquisadora Ilara Hämmerli Sozzi de Moraes, para participar de forma integrada do esforço de estruturação do Programa de Telessaúde da Fiocruz, a cargo da Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação. O tema, de grande importância para a saúde pública, busca utilizar tecnologias da informação como mecanismos para superar distâncias na atenção à saúde para todos os pontos do Brasil. Para entender esse processo e como vem sendo trabalhado na Escola, o Informe Ensp conversou com Ilara Hämmerli.


Como foi o processo de criação de um Programa de Telessaúde?

Ilara Hämmerli:
Fui convidada pela vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Maria do Carmo Leal, para integrar o grupo que vem trabalhando a construção do Programa de Telessaúde da instituição. O diretor da Ensp, Antônio Ivo de Carvalho, que sabe da importância que a Telessaúde tem para o campo da saúde pública brasileira, assinou portaria me designando para responder pela Coordenação do Programa de Telessaúde da Escola.


Qual a diferença entre telemedicina e telessaúde?

Ilara:
O termo telessaúde tem uma variedade de conceitos, mas em todos está presente a ideia de espaço enquanto tentativa de superação da distância. Observa-se, nas práticas de telessaúde, que ao conceito de espaço associa-se a ideia de tempo, pois, de fato, as ações de telessaúde têm por finalidade garantir qualidade à atenção à saúde, independente da distância, no tempo mais rápido possível.


Em sua origem, denominava-se telemedicina. Nomenclatura adequada para o caso de ações que tenham seu escopo na teleassistência ofertada por profissional médico. Ao incorporar outros saberes e práticas profissionais, emerge o termo telessaúde, que amplia seu escopo para envolver ações de promoção da saúde, prevenção de doenças, vigilância e regulação em saúde, dentre outras aplicações, ganhando cada vez maior relevância.


Relevância tanto por seus benefícios para a saúde de indivíduos e populações ao propiciar acesso rápido a conhecimentos em saúde, independentemente do local onde se encontre o paciente ou a sua informação, quanto por pressupor a expansão de um dinâmico mercado produtor/consumidor das chamadas empresas 'ponto com' (TI) em aliança com o complexo econômico de equipamentos e serviços hospitalares.


Daí ser estratégico, em um contexto de políticas inovadoras em saúde, investir no desenvolvimento de uma 'inteligência pública' neste campo, minimizando riscos de lock in a empresas de desenvolvimento de aplicativos/software, de detentoras de propriedade de padrões, de protocolos de segurança, entre outras dimensões, garantindo autonomia ao país e posição confortável nos fóruns de negociações nacionais e internacionais de preços e qualidade, no contexto globalizado e cartelizado das grandes corporações de TI.


Como vê a importância da Ensp/Fiocruz nesse processo?

Ilara:
Penso que é mais um desafio em que a Ensp se lança. A Escola, instituição caracterizada por sua diversidade e pluralidade, tem um papel estratégico: produzir saberes e práticas em telessaúde que invoquem a transdisciplinaridade como eixo epistêmico, com sua contraface política - a cooperação e a solidariedade entre os envolvidos.


O direcionamento proposto fundamenta-se no pensamento crítico de uma práxis assistencial em saúde fragmentada, hospitalocêntrica, não constitutiva de uma rede assistencial integral, hierarquizada e regionalizada, com qualidade equanimente ofertada às populações. Longe de achar que a telessaúde é uma resposta a esses limitantes, trata-se tão somente de buscar aliar o Programa de Telessaúde/Ensp aos esforços que buscam sua superação, e não sua reprodução e reforço às limitações estruturais do setor saúde. Somente nesse caso a telessaúde pode configurar-se como inovação.


Essa opção sinaliza um desafio a ser coletivamente enfrentado não só no âmbito da Ensp, mas em sua inserção e diálogo tanto com a política nacional de ciência, tecnologia e inovação em saúde quanto com o Sistema Único de Saúde (SUS). A par dos avanços construídos em Telessaúde, há uma infinidade de novas possibilidades sendo gestadas, vislumbrando-se um leque de alternativas quando calcadas na inter e transdisciplinaridade. A telessaúde é fortemente ancorada na clínica e tem muito com o que se beneficiar do diálogo com outros campos, e vice-versa, principalmente no âmbito dos saberes constitutivos da saúde coletiva/saúde pública. Ou seja, o Programa de Telessaúde da Ensp traz em seu interior mais este desafio: participar deste diálogo epistêmico em interseção com os saberes e práticas das ciências da informação e tecnologia de informação.


E tudo isso vai começar a ser elaborado a partir desse Programa na Escola?

Ilara:
Há um conjunto de iniciativas em andamento na Ensp. Vale destacar o Programa de EAD/Ensp, com mais de dez anos, que traz importantes contribuições para uma das dimensões de telessaúde: a telessaúde formativa. O Cesteh e o Centro de Saúde Escola (CSEGSF) vêm avançando na busca de novas práticas de atenção no bojo da telessaúde. Dentre outras iniciativas, mais recentemente, em outubro/2009, tivemos o lançamento do Observatório de Informação, Tecnologia de Informação e Telessaúde (ObservIN), que coordeno. O que entendo ser a preocupação da Direção da Ensp ao estabelecer o Programa de Telessaúde é procurar potencializar e articular o conjunto dessas iniciativas no sentido de uma ação institucional estratégica para o SUS, para a pesquisa e o ensino em telessaúde.


Nesse programa, a senhora está se reunindo com os departamentos da Escola?

Ilara:
Estamos mantendo diálogo prioritariamente com as iniciativas que já manifestaram interesse em se articular em torno do eixo telessaúde, com destaque para o Cesteh, o Centro de Saúde Escola (CSEGSF) e a equipe do ObservIN. Nossa expectativa é constituir um fórum permanente de troca de experiências, com o estabelecimento de mecanismos que facilitem o intercâmbio de práticas, resultados e serviços.


Como o espectro e atuação em telessaúde são muito amplos, elaboramos um sintético documento que inclui matriz com alternativas de aplicação em telessaúde, a ser complementada pelos responsáveis das experiências, com a finalidade de colaborar nos esforços de delineamento do escopo existente na Ensp.


É importante sistematizar para onde caminha a vocação científica da Ensp em telessaúde, diante da miríade de possibilidades. Por exemplo, dentre as diretamente relacionadas à teleAssistência, podemos destacar: atenção primária (PSF), telediagnóstico, consulta online e offline, homecare, estruturação de sistemas de emergência pessoal, monitorar medicação, orientar/monitorar regime alimentar, orientar/monitorar visita domiciliar, manter cuidador familiar informado. Isso apenas para citar algumas alternativas, com aplicações nas mais diferentes especialidades clínicas e agravos/grupos de risco. Na referida planilha, destacamos ainda experiências de aplicação em: segunda opinião clínica/discussão de casos clínicos, rede de bancos de leite humano, realidade virtual, definição de protocolos clínicos e de gestão em telessaúde, formação de junta médica a distância.


Na vigilância em saúde, gestão e regulação assistencial, há pesquisas articuladas à telessaúde, destacando-se linhas de estudos voltadas para padrões de interoperabilidade e de terminologias em saúde; estruturação de Ambiente Informacional em Saúde para apoio à decisão; privacidade e confidencialidade em telessaúde, em seus aspectos éticos; metodologia de avaliação em TS; avaliação econômica; interface direta com o cidadão, incluindo toda a gama de debates que envolve o Prontuário Eletrônico do Paciente.


A senhora, pela Ensp, e a Angélica Silva, do Canal Saúde, representam a Fiocruz no INCoDs. O que é o INCoDs e qual é a relação com a Telessaúde?

Ilara:
Participamos (com o professor Miguel Murat Vasconcellos e Angélica Silva) da elaboração da proposta de criação do INCoDs - Instituto Nacional de Convergência Digital em Saúde - aprovada no Edital Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia/CNPq. Dentre vários parceiros, fazem parte do INCoDs a UFSC (como coordenadora), a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e o Instituto de Matemática e Ciências da Computação da USP, a UFPR, a Unifesp.


Tendo como referência a convergência digital, destaco o objetivo do INCoDs de construir e avaliar um modelo de processo de trabalho colaborativo que, a partir de um problema de saúde, possa contribuir para sua solução. Na primeira reunião do corpo científico, houve a sinalização de escolher 'Telessaúde em dermatologia' (área que tanto o Cesteh quando o Centro de Saúde Escola têm acúmulo e interesse) como o problema de saúde em torno do qual os parceiros/INCoDs focaram o desenvolvimento colaborativo. Ou seja, há todo um caminho pela frente para avançar de forma articulada e solidária na produção de saberes e práticas em telessaúde.


Publicado em 5/11/2010.

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