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10/04/2015

Seminário sobre chikungunya reúne profissionais de saúde em Campo Grande (MS)

Alice Feldens Carromeu / Ascom Fundect


Durante dois dias (9 e 10/4), Campo Grande (MS) sediou o 1° Seminário Centro-Oeste de Chikungunya: novo desafio para saúde pública nas Américas. Organizado pela Fiocruz Mato Grosso do Sul, o evento reuniu profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), representantes de instituições que integram a rede pública e/ou privada de saúde, além de estudantes de graduação e pós-graduação, docentes e pesquisadores de todas as regiões do Brasil. Foram discutidas quais as ações devem ser realizadas quanto aos procedimentos clínicos, controle e vigilância da chikungunya e também da dengue, doenças semelhantes e transmitidas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti.

(foto: Bruno Araújo / Fundect)

 

Para o coordenador do evento e da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio, é necessário organizar uma rede de atenção aos casos suspeitos de forma diferente do que sempre foi feito em relação à dengue. Ao contrário do que ocorre durante as epidemias de dengue, a nova doença apresenta razoável possibilidade de se tornar crônica, ou seja, um percentual de doentes continuará a exigir cuidados por períodos prolongados. “Infelizmente não podemos impedir que uma epidemia de chikungunya se instale não só em nosso Estado, mas em todo o Brasil. É apenas uma questão de tempo para que isso aconteça, e precisamos estar preparados”, alertou Venâncio.

Por ser uma doença recente no país, os especialistas em saúde ainda estão estudando seu desenvolvimento, já que ela ocorre de formas distintas em cada localidade. “Não temos experiência nessa doença, por isso o alerta é total e precisamos nos preparar para o pior cenário. Quem teve dengue e depois pegar a chikungunya, vai sentir saudades da dengue”, enfatizou Rivaldo.

A mesa de abertura contou com a presença do professor Giovanini Coelho, coordenador do Programa Nacional de Dengue e Chikungunya do Ministério da Saúde, que considera a doença um grande evento epidemiológico do século 21. “Diante de um cenário de previsão, devemos nos organizar com um plano de contingência para combater a chikungunya, fazendo uma campanha de mobilização que seja em conjunto, o trabalho tem que ser feito pela população como um todo”, salientou.

O diretor-presidente da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), Marcelo Turine, ressaltou a importância do evento, que trata de uma área estratégica para o Brasil: a saúde pública. “Em tempos de crise nacional, representa um grande desafio buscar meios para darmos continuidade às ações em Saúde. Graças a parcerias entre a Fundect, a Fiocruz e o CNPq, é possível continuar fomentando projetos de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação em nosso estado”, garantiu Turine. 

O assunto do evento gerou tanto interesse que foi preciso acomodar os 718 inscritos em um auditório e mais duas salas que transmitiam o vídeo em tempo real, na Universidade Anhanguera Uniderp. Além disso, foram arrecadados 415 quilos de alimentos não perecíveis, que serão doados a um projeto que ajuda catadores de materiais recicláveis da cidade. 

Para mais informações sobre o seminário, acesse o site do evento.

A doença Chikungunya

De acordo com o dialeto africano makonde, chikungunya significa "aqueles que se dobram" – uma referência ao andar curvado dos pacientes devido às fortes dores. O vírus da chikungunya é transmitido aos humanos pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Depois de infectado, o paciente apresenta sintomas semelhantes aos da dengue, como a presença de dores intensas nas articulações e febre, porém, em muitos casos essas dores não duram somente semanas, mas meses ou até anos, podendo ocorrer inclusive lesões permanentes.

O diagnóstico depende de uma avaliação clínica cuidadosa e do resultado de exames laboratoriais. Assim como ocorre nos casos confirmados de dengue, o tratamento contra a chikungunya é feito à base de analgésicos e antitérmicos. 

A febre chikungunya foi detectada pela primeira vez em 1952, na África, espalhando-se em seguida para a Ásia. No final de 2013, a doença foi registrada nas Américas. Até janeiro de 2015, foram mais de 1,135 milhão de casos suspeitos registrados nas ilhas do Caribe, países da América Latina e Estados Unidos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, sendo que 176 mortes foram atribuídas à doença no mesmo período. 

No Brasil, os primeiros casos foram registrados em 2014. De acordo com dados do último boletim do Ministério da Saúde, já foram notificados no país mais de quatro mil casos suspeitos, localizados principalmente nos estados do Amapá e da Bahia, além de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, onde um caso foi confirmado ano passado. 

Alguns municípios brasileiros chegaram a enfrentar epidemias de chikungunya em 2014, como é o caso de Feira de Santana – BA. Segundo a Técnica em Vigilância daquele município, Maricélia de Lima, o primeiro caso registrado foi em maio de 2014. Era um brasileiro que morava em Angola, na África e veio para a formatura da filha, no Brasil.

“Inicialmente, suspeitamos de dengue, mas os exames deram negativo. Depois, malária, e novamente os resultados foram negativos. Até que alguns familiares dele adoeceram, depois alguns vizinhos e de repente muitas pessoas do bairro estavam com os mesmos sintomas. Enfim, já havia uma epidemia no bairro quando conseguimos descobrir que era a tal chikungunya”, relatou Maricélia, que comparou a chegada da doença como um tsunami, pegando a todos totalmente desprevenidos.

Trabalho em pesquisa

Mesmo pouco conhecida, a chikungunya já vem sendo objeto de estudo no Brasil há três anos, num trabalho de pesquisa liderado pela virologista Claudia Nunes Duarte dos Santos, coordenadora do laboratório de virologia molecular do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná). Os especialistas conseguiram isolar o vírus causador da febre chikungunya em amostras humanas.

O gene do vírus foi sintetizado quimicamente e a partir dele foi produzida uma proteína recombinante. A intenção é que, a partir dos estudos, os resultados de exames possam ser obtidos em 15 minutos. “É um direito do paciente receber diagnóstico rápido e seguro, e quem trabalha com saúde pública precisa ser eficiente e garantir que isso aconteça”, esclareceu Cláudia. De acordo com a pesquisadora, ainda há alguns desafios pela frente, como fortalecer o desenvolvimento tecnológico com novos insumos para detecção, prevenção e tratamento da chikungunya no Brasil. 

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