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20/08/2014

Pesquisa aborda fatores associados ao fim do ciclo reprodutivo em mulheres soropositivas

Danielle Monteiro


Entre as pessoas que vivem com Aids no mundo, metade são mulheres, segundo dados da Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). A prática de sexo desprotegido, a baixa percepção do risco de infecção pelo HIV e a dificuldade de negociação do uso do preservativo, aliadas à manutenção da atividade sexual no climatério, podem levar a um aumento global de mulheres que terão que conviver com a doença quando alcançarem a menopausa. Foi diante dessa nova realidade que o aluno de doutorado em Pesquisa Clínica de Doenças Infecciosas, no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Guilherme Calvet decidiu investigar os fatores associados à idade da menopausa e a eficácia da terapia antirretroviral nessa parcela da população. “Muitas mulheres HIV-positivo, além de ficarem expostas às complicações metabólicas comuns à fase de pós-menopausa decorrentes da perda de estrogênio, podem possuir previamente outros fatores de risco ou complicações relacionadas à infecção pelo HIV e ao uso prolongado do tratamento para a doença”, justifica Calvet.

Do total de mulheres estudadas, 160 haviam chegado à menopausa natural, sendo que a idade média entre o grupo foi de 48 anos

 

O estudo, que envolveu 667 mulheres HIV-positivo a partir de 30 anos de idade em acompanhamento no INI/Fiocruz, revela que aspectos relacionados à saúde, ao estilo de vida, à reprodução, além do tempo de exposição ao tratamento para a doença, estão intimamente associados à idade da menopausa. A tese foi dividida em dois artigos. O primeiro analisou os fatores associados à menopausa natural (cessação do ciclo menstrual) e à menopausa natural precoce (cessação do ciclo menstrual com idade menor ou igual a 45 anos).

Os dados apontam que fatores como menarca precoce (primeira menstruação em menores de 11 anos de idade), imunodeficiência avançada relacionada ao HIV, exposição inferior a dez anos ao esquema antirretroviral, coinfecção hepatite C/HIV e tabagismo têm influência na antecipação da idade natural da menopausa. “Esses resultados têm importantes implicações para a saúde pública, uma vez que a antecipação da menopausa tem sido associada ao aumento de morbidades como aterosclerose, doenças cardiovasculares, osteoporose, fraturas ósseas e crescimento da taxa de mortalidade”, destaca.

Do total de mulheres estudadas, 160 haviam chegado à menopausa natural, sendo que a idade média entre o grupo foi de 48 anos. Ter mais de três filhos mostrou associação com entrada mais tardia nessa fase do ciclo reprodutivo. Os resultados também indicaram que 27% entraram na menopausa precoce.

Já o segundo artigo, que compara a resposta imunológica e virológica da terapia antirretroviral de primeira linha entre mulheres pré e pós-menopausadas, indicou que os dois grupos reagem de forma semelhante em relação à resposta imunológica em até 24 meses após início do tratamento. “O resultado assegura que mulheres podem ser tratadas de forma similar independentemente de sua idade”, explica Calvet. De um total de 383 mulheres, 85% estavam na fase pré-menopausa e 15% na pós-menopausa.

Para o pesquisador, os resultados sugerem necessidade de estudos sobre a reposição hormonal em mulheres soropositivas, especialmente entre as que se encontram em menopausa precoce, avaliando benefícios à saúde, redução de sintomas, aumento da qualidade de vida, análise das interações medicamentosas e segurança. “Estudos futuros são necessários para avaliar estratégias de otimização da terapia antirretroviral nesta população, em função do número crescente de mulheres pós-menopausadas em uso de terapia antirretroviral e do impacto da reconstituição imune (resposta inflamatória a uma infecção oportunista) na sobrevida”, conclui.

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