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09/04/2015

Fiocruz e UNA-SUS debatem em seminário o uso de recursos educacionais abertos

Keila Maia / Icict


A forma de disponibilizar materiais educacionais on-line, as condições necessárias para que seja possível oferecer um conteúdo de qualidade e o conceito do que é aberto são alguns dos temas que estiveram em discussão no primeiro dia do Seminário Recursos Educacionais: desafios e perspectivas para a educação aberta. O encontro, promovido pela Fiocruz em parceria com o Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), tem por objetivo iniciar os debates visando à construção de diretrizes comuns para a consolidação de uma política de produção e compartilhamento de recursos.

O encontro tem por objetivo iniciar os debates visando à construção de diretrizes comuns para a consolidação de uma política de produção e compartilhamento de recursos (foto: Peter Ilicciev)

 

“Estamos diante de uma questão que não se restringe aos profissionais de educação, pesquisadores e cientistas, mas que é de domínio público. Nosso tema central é a saúde e cada vez mais as pessoas defendem o direito de saber o que vem sendo desenvolvido; isso é defendido pelas associações de portadores de doenças e por vários outros segmentos da sociedade e é em todo esse universo que precisamos pensar ao debater recursos educacionais”, destacou a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.

De acordo com a definição proposta pela Unesco em 2002, Recursos Educacionais Abertos-REA- são materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia, que estão sob domínio público ou estão licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros. Os REAs abrangem cursos, módulos, livros didáticos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software e qualquer outra ferramenta, material ou técnica, que possa apoiar o acesso ao conhecimento.

“O termo REA foi cunhado em 2002, mas ainda há uma necessidade de disseminá-lo. Trata-se de uma discussão antiga, em que, na verdade, novo mesmo é o debate em torno da licença ou seja, na forma de licenciar e compartilhar os conteúdos com mais liberdade”, afirmou a doutora em Tecnologia Educacional pela Open University do Reino Unido (2011), Andreia Inamorato dos Santos. Nesse sentido, segundo Andreia, ainda precisam ser superados alguns desafios, destacando-se entre eles a acreditação, a transparência e ainda a confiança no conteúdo produzido por outras pessoas e instituições.

“Se estamos falando em compartilhar recursos em uma mesma base, é preciso considerar todas essas questões. No Brasil, há um preconceito muito grande em relação ao que é produzido fora dos nossos muros, ou seja, uma organização não confia no que é desenvolvido em outra. Além disso, há que se pensar em quem iria controlar, autenticar e reconhecer um conhecimento gerado inclusive em instituições informais”, avaliou.

Ética e solidariedade

Para o coordenador da Cátedra Unesco em Educação Aberta, Tel Amiel, doutor em Tecnologia Educacional na University of Georgia (2006), qualquer movimento em torno do REA precisa ser embasado na ética. É necessário ainda ter clareza das razões que levam uma instituição a produzir colaborativamente.

“Pensar em REA significa pensar na melhor maneira de dar acesso e também de fazer com que o conteúdo disponibilizado seja adaptável. Ao produzir um REA, cede-se o controle do que foi produzido para um terceiro, que vai reutilizá-lo e gerar um novo produto. Portanto, as questões da licença e da definição de um público-alvo passam a ser secundárias”, ressaltou.

Segundo Amiel, toda instituição interessada em gerar algum tipo de REA deve considerar as condições disponibilizadas. “Ainda que se tenha o melhor equipamento e uma ótima ideia, se um professor, por exemplo, não tiver tempo para colocar isso em prática, certamente o projeto não vai andar”, afirmou.

Outro aspecto pontuado durante o seminário se refere à questão dos formatos dos conteúdos produzidos, isto é, as definições para armazenamento de dados digitais. De acordo com o doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, Sérgio Amadeu, um REA não pode existir plenamente se os formatos não forem abertos. Ele ressalta que um formato é aberto quando baseado em padrões abertos, desenvolvido de forma transparente e de modo coletivo. As especificações devem estar totalmente documentadas e acessível para todos. Além disso, o formato aberto deve ser mantido para ser usado independente de qualquer produto ou empresa, livre de qualquer extensão proprietária que impeça seu uso livre.

“O formato é vital. Um formato fechado é uma cadeia de aprisionamento. Veja o exemplo do PDF: é aberto, mas não é editável. Um REA,  para garantir sua recombinação plena, precisa ser reeditável. Somente o padrão totalmente aberto estimula a criação. E a internet, desenvolvida completamente em formatos abertos, é a maior prova de que isso é verdade”, destacou.

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