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01/06/2012

Evento debate incidência do plágio no Brasil e no exterior

Danielle Monteiro e Renata Moehlecke


Nesta quarta-feira (30/5) a Fiocruz sediou o debate Plágio na educação, ciência, tecnologia e inovação: afinal, qual o tamanho do problema? O evento faz parte das atividades do Segundo Encontro Brasileiro sobre Integridade na Pesquisa e Ética na Ciência e Publicação, que ocorre esta semana na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – 28 e 29/5 –, na Universidade de São Paulo (USP) – 31/5 –, e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) – 1°/6.  O objetivo é abordar a prática e a incidência de plágio nas escolas no Brasil e no exterior, as motivações para essa prática e potenciais impactos na formação de profissionais e jovens pesquisadores brasileiros. O encontro tem entrada franca, tradução simultânea e pretende envolver cientistas, professores de ensino fundamental, médio e universitários.


 Segundo os presentes ao evento, com a internet existe uma cultura de permissividade: para os alunos, há uma falsa ideia de que tudo pode, de que é possível copiar sem que isso seja um problema grave

 Segundo os presentes ao evento, com a internet existe uma cultura de permissividade: para os alunos, há uma falsa ideia de que tudo pode, de que é possível copiar sem que isso seja um problema grave





Na Fundação, estiveram presentes à mesa-redonda Plágio em escolas e universidades o corregedor-geral da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Ceará (OAB-CE), e autor do documento sobre o combate ao plágio na educação brasileira, Ricardo Bacelar; a diretora do Colégio de Aplicação (CAP) da UFRJ, Celina Costa; o professor da Universidade de Rutgers (Nova Jersey) e um dos pesquisadores mais referenciados em pesquisas e discussões sobre plágio no contexto escolar e universitário, Donald McCabe; e o professor da Universidade de St. John e acadêmico com maior expressão internacional na discussão sobre plágio na ciência, Miguel Roig. A vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Claude Pirmez, coordenou as apresentações.


Ao abrir o debate, Bacelar explicou que o plágio é mais que um problema de propriedade intelectual. “Com as pesquisas pela internet, existe uma cultura de permissividade: para os alunos, há uma falsa ideia de que tudo pode, de que é possível copiar sem que isso seja um problema grave”, afirmou. “Na escola primária, se o aluno copia um trabalho, ele não tem a oportunidade de desenvolver o pensamento de forma sistemática, de pesquisar, organizar as ideias e aprender, assim, a escrever de fato, a expor suas próprias ideias, deficiência que acaba levando para o resto da vida acadêmica”. O corregedor ainda comentou que encaminhou uma sugestão ao governo federal. “É preciso perceber que se trata de um problema de estado, policial, institucional, sendo necessárias políticas públicas mais contundentes, uma divulgação em massa dos males do plágio”.



O professor Donald MacCabe, que realiza estudos sobre o plágio, apontou que a prática acontece em 49% das escolas privadas e 20% das escolas públicas norte-americanas e tende a ser três vezes maior nas instituições de ensino primário estrangeiras, de acordo com pesquisa realizada com 133 mil estudantes entre 2002 e 2011. Na área de pesquisas científicas nos Estados Unidos, os números também são preocupantes: a falsificação de dados chega a 25,3%. “Pesquisadores apontam que esse problema é crescente”, disse MacCabe. Ele destacou que o plágio é adotado muito cedo nas escolas norte-americanas, sendo incentivado pelos próprios códigos de conduta presentes nessas instituições de ensino. “Nas escolas públicas, por exemplo, onde não há penalidade para esse comportamento, o plágio é quase que incentivado e passa despercebido, pois não é encarado como crime”, enfatizou. “Diria que 50% dos professores norte-americanos não consideram a prática abusiva”, complementou. E adotada já nas escolas, a prática se estende ao ensino superior. “Se estão habituados a plagiar desde cedo, vão fazê-lo na faculdade. Esse tipo de comportamento acaba sendo replicado”, alertou.


Segundo MacCabe, o plágio acontece em todo o mundo e a internet se tornou o principal canal para essa prática. “O aluno pensa que, se aquele conteúdo está na internet, é público, então, por que não copiar?”, explicou. E para justificar a conduta, os argumentos são diversos. “Muitos plagiam porque querem ter um bom desempenho e atender às expectativas dos pais”, contou. Em pesquisa realizada com estudantes da Universidade de Connecticut que já alteraram resultados laboratoriais, o plágio é justificado como parte integrante da conduta acadêmica, sendo uma prática utilizada para agradar clientes institucionais e adotada desde o ensino primário. Como soluções para o problema, o professor propõe a abordagem do tema já no ensino primário e o envolvimento dos pais de forma a ensinar a seus filhos que quem plagia está adotando uma conduta ruim e alienadora. “Não há soluções fáceis para isso, mas ainda assim devemos pensar em como preparar essa nova geração”, finalizou.


Celina Costa também apontou o próprio sistema educacional nas escolas como incentivo ao plágio, uma vez que não exige dos alunos a prática da escrita. "Como o estudante acha que o que está sendo cobrado dele é apenas o que o professor deseja, ele não se sente autor, pois está somente desenvolvendo um trabalho solicitado", destacou. Para combater o plágio, assim como MacCabe, ela propõe a conscientização dos estudantes ainda nas escolas sobre o significado de plagiar, esclarecendo a eles que, ao copiarem um texto sem citar sua fonte, estão, na verdade, roubando um direito autoral. "Precisamos fazê-los entender o que é citação, fidedignidade e pesquisa e, a partir daí, podemos contribuir para formar estudantes com uma postura mais crítica", sugeriu. Segundo ela, é justamente essa a proposta dos minicursos elaborados pelo CAP/UFRJ oferecidos aos alunos do próprio colégio e em uma escola estadual com formação de professores para o ensino básico. "Com esses cursos, contribuiremos para formar professores para as novas gerações, inaugurando um trabalho que atingirá futuros cientistas”, afirmou. Ela ainda propôs, como solução para o problema, deixar claro para o aluno que dele se espera uma reprodução fidedigna de sua fonte, e não um trabalho completamente inédito.


A apresentação de Miguel Roig foi centrada na questão da prevenção do problema e na exposição técnicas de detecção de plágio. Ele destacou, por exemplo, como o texto escrito pode ter características em seu formato, fonte e estilo que tornam possível verificar se o aluno colou. O professor também contou um pouco de sua experiência pessoal. “Sou conhecido na minha escola por ser bastante rígido com o plágio e isso faz com que os estudantes tenham medo serem desonestos. Dizer que não sabia que estava cometendo plágio também não é uma desculpa, porque ensino a eles o que é cópia, citação, paráfrase, resumo etc, incluindo exercícios para a detecção de cada um desses itens”, explica. “Não é fácil nem divertido para o professor lidar com esse problema: confrontar os alunos é um processo doloroso”, concluiu.


Publicado em 31/5/2012.

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