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24/09/2010

Estudo inédito comprova presença de anticorpos contra o rotavírus no leite materno

Bel Levy


É extensa a lista dos benefícios à saúde proporcionados pela amamentação – o leite materno é rico em nutrientes, vitaminas e agentes imunológicos e contribui para o desenvolvimento intelectual, psíquico e emocional do bebê. A prática é tão importante que o Ministério da Saúde preconiza o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida e a manutenção da amamentação até os dois anos de idade. Confirmando a importância da amamentação para a formação do sistema imunológico dos bebês, estudo desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto Butantã identificou a presença de anticorpos contra o rotavírus no leite humano. Os resultados inéditos serão apresentados no 5º Congresso Brasileiro / 1º Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano, que ocorrerá de 28 a 30 de setembro, em Brasília.


“A análise do leite humano de mulheres não vacinadas contra o rotavírus identificou a presença de anticorpos no leite materno que podem proteger os bebês contra as doenças diarréicas provocadas pelo vírus”, resume a pediatra Virgínia Spinola Quintal, coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Universitário da USP. Virgínia informa que o sorotipo do vírus estudado – o rotavírus g9p – é um dos sorotipos presentes na atual vacina disponibilizada pelo Ministério da Saúde e tem prevalência emergente no Brasil.


A quantificação dos níveis de anticorpos presentes no leite humano mostrou que a concentração de agentes imunoprotetores contra o rotavírus varia de mãe para mãe – aspecto que ainda será esclarecido pelos pesquisadores. Virgínia explica que, como as mulheres têm concentrações diferentes de anticorpos, não é possível assegurar que, em todos os casos, a mãe transmitirá quantidade suficiente de anticorpos para proteger a criança. Por isso, a vacinação deve permanecer.


"O estudo sugere uma avaliação mais profunda do efeito protetor do aleitamento materno sobre a infecção pelo rotavírus, considerando a possibilidade de interferência da amamentação na resposta da criança à vacina. Os resultados desta investigação podem colaborar para a revisão da atual estratégia de vacinação contra o rotavírus”, a pesquisadora apresenta.


Atualmente, a vacina contra o rotavírus é administrada por via oral em duas doses, aos dois e aos quatro meses de vida. Não há associação com a amamentação porque o efeito protetor do leite humano contra o rotavírus ainda não era conhecido. “É preciso entender como os anticorpos do leite humano e os componentes da vacina interagem, para verificar se a proteção transmitida pela mãe pode neutralizar o efeito da vacina. O objetivo é propor novas estratégias de imunização contra o rotavírus, combinando amamentação e vacinação”, Virgínia adianta.


Os resultados comprovam a eficácia do aleitamento materno como estratégia para a redução da mortalidade infantil – uma das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU). As doenças diarréicas estão entre as principais causas de óbito entre crianças menores de cinco anos e a amamentação é internacionalmente reconhecida como estratégia eficaz para redução do problema.


O 5º Congresso Brasileiro / 1º Congresso Iberoamericano de Bancos de Leite Humano reunirá em Brasília representantes dos 23 países que compõem o Programa Iberoamericano da Bancos de Leite Humano (IberBLH), coordenado pela Fiocruz. O Brasil é pioneiro na área e concentra, em todo o país, 200 bancos de leite humano, que compõem a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (RedeBLH). O impacto da iniciativa sobre a saúde pública é tão significativo que, em 2001, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a RedeBLH como a ação que mais contribuiu para a redução da mortalidade infantil no mundo, na década de 1990.


Publicado em 24/9/2010.

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