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09/05/2012

Estudo associa uso de substâncias por jovens e problemas familiares

Danielle Monteiro


O uso de substâncias psicoativas na adolescência pode estar intimamente relacionado a problemas no ambiente familiar. O alerta é de pesquisa elaborada por estudiosos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e publicada nos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz. O estudo, realizado com 965 adolescentes em 50 escolas públicas dos municípios de Jacareí e Diadema, em São Paulo, aponta maior número de relatos de problemas familiares entre jovens que fizeram uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas em comparação com os que não utilizaram nenhuma das substâncias.


 O consumo de álcool e tabaco pode aumentar as chances de os adolescentes referirem problemas familiares ou os problemas familiares podem estar aumentando as chances de consumo das substâncias

 O consumo de álcool e tabaco pode aumentar as chances de os adolescentes referirem problemas familiares ou os problemas familiares podem estar aumentando as chances de consumo das substâncias





As conclusões ainda revelam maior frequência de problemas familiares entre os adolescentes que usaram álcool e tabaco em relação aos que fizeram uso somente de álcool. No grupo de adolescentes com consumo das duas substâncias, a possibilidade foi de duas a três vezes maior de a família raramente fazer atividades em conjunto, de os pais desconhecerem o que seus filhos pensam ou sentem sobre o que consideram importante, de passar a maior parte do tempo livre com amigos, de praticar a maioria das atividades de lazer sozinhos e de os pais passarem a maior parte do tempo fora de casa, em comparação com os jovens que não utilizaram substâncias. Também foi encontrada probabilidade entre três e quatro vezes maior de esses adolescentes não terem boa relação com os pais, de se sentirem em perigo em casa, de os pais discutirem com frequência, de necessitarem de cuidados ou atenção paternas, de discutirem frequentemente com seus responsáveis e de terem pais com histórico de uso de álcool levando a ocorrência de problemas ou de consumo de maconha ou cocaína. “O uso de álcool e tabaco esteve associado a prejuízos familiares significativos, semelhantes aos associados ao consumo de drogas ilícitas”, observam os pesquisadores.


Já os adolescentes que consumiram somente álcool apresentaram o dobro de chances de ter algum membro da família que usou a substância a ponto de causar problemas, de não ter bom relacionamento com os pais, de frequentar festas sem sua presença, de passar a maior parte do tempo livre com amigos, de os pais permanecerem fora de casa a maior parte do tempo e de brigarem muito entre si, de a família raramente passar momentos juntos, de discutir frequentemente com os pais e de sentir falta de cuidados por parte deles e de regras claras sobre o que é permitido ou não, comparado aos que não fizeram uso de substâncias. “A falta de monitoramento tem sido apontada como um dos fatores familiares mais associados ao risco de uso de substâncias psicoativas por adolescentes”, relatam os estudiosos. Entre os estudantes com consumo somente de tabaco, as chances foram 5,5 vezes maiores de ter algum membro da família que usou maconha ou cocaína no mês anterior à entrevista e 4,8 vezes maiores de se sentir em perigo em casa, em relação aos que não consumiram substâncias.


Os jovens com consumo de drogas ilícitas, comparado aos que não usaram substâncias psicoativas, apresentaram três vezes mais chances de não dispor de boa relação com os pais, de seus responsáveis desconhecerem seus gostos e o que pensam ou sentem sobre fatos que consideram importantes e de os pais discutirem com frequência e de passarem a maior parte do tempo fora de casa. O grupo de adolescentes ainda teve probabilidade de três a cinco vezes maior de discutir frequentemente com os pais, de a família dificilmente passar momentos juntos, de os pais desconhecerem onde estão ou o que estão fazendo, de sentir falta de cuidados paternos, de possuir membro na família com histórico de uso de maconha ou cocaína ou que foi preso no mês anterior à entrevista e de ter pais que tiveram problemas em decorrência da ingestão excessiva de álcool. “Pais que usam substâncias oferecem menos suporte, monitoramento e outros cuidados aos filhos. Esse hábito também poderia levar a discussões frequentes entre ambos, contribuindo para a falta de controle e dificultando a inserção de limites e disciplina”, argumentam os pesquisadores.



Segundo os estudiosos, as conclusões da pesquisa remetem à necessidade de estratégias de prevenção voltadas não somente aos adolescentes, mas também aos familiares. “Tal modelo tem mostrado bons resultados na prevenção e redução de problemas associados ao uso de substâncias”, garantem. O estudo, no entanto, não revela se as associações encontradas são causais ou a possível direção de causalidade. “O consumo de álcool e tabaco pode estar aumentando as chances de os adolescentes referirem problemas familiares ou os problemas familiares podem estar aumentando as chances de consumo destas substâncias”, afirmam os pesquisadores.


Publicado em 9/5/2012.

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